Tamiya Frog

[Christian]

PREFÁCIO

A minha paixão pelo automodelismo RC vem de longe. Quando eu era garoto, aqui no Brasil só existiam os "carrinhos de controle remoto" da Estrela (Pegasus, Colossus, etc), cujo preço infelizmente era muito acima dos presentes que meus pais podiam me dar na época. Assim, possuir um "carrinho de controle remoto" era apenas um sonho de criança. Tinha que me contentar com "carrinhos de ferro" (os famosos "Matchbox"), bola, bicicleta, e - o melhor dos presentes da época - um autorama da Estrela.

Quando eu já tinha uns 12-13 anos, fizemos uma viagem de família para a Alemanha, para visitar meus avós, e lá pude enfim satisfazer meu desejo de comprar um "carrinho de controle remoto"! Além da maior variedade, o preço dos carrinhos também era bem mais acessível do que os daqui do Brasil. Entretanto, na loja de brinquedos, alguns carrinhos me chamaram a atenção. Não eram "de brinquedo", como os que eu estava acostumado. Além de parecerem mais com carros de verdade (tinham até amortecedores), vinham em "kits" para montar e pintar! Mas se os carrinhos RC "de brinquedo" eram mais acessíveis, estes carrinhos ditos "profissionais" não estavam na minha faixa de preço. Tive que me contentar em comprar um carrinho "de brinquedo" (lembro até hoje, era um Kadett prata!), que já me fez muito feliz! Dos carrinhos "profissionais" fiquei apenas com um catálogo, que levei pra casa e ficava folheando quase que diariamente, vendo as páginas com figuras do "The Frog", "The Grasshopper", etc, sonhando um dia em comprar um carrinho daqueles. Era um catálogo da Tamiya...

Agora, um BOM tempo depois - e alguns anos participando de competições de RC - navegando na net me deparei novamente com os carrinhos que povoaram meus sonhos na infância! A Tamiya relançou alguns de seus carrinhos "clássicos" (ou "vintage"), a preços bem convidativos... O RC evoluiu bastante nos últimos anos, e estes carrinhos projetados a 20-25 anos atrás hoje estão totalmente ultrapassados tecnologicamente. O desempenho e durabilidade deles não se comparam aos dos modelos de hoje, mesmo dos RTRs mais baratos. Mas, contrariando meu passado recente de competições, onde o que mais importava nos carrinhos que eu comprava era o desempenho na pista, meu interesse por estes "clássicos" foi puramente nostálgico, de colecionador. Pode-se dizer que busquei realizar meu sonho de infância, de possuir um carrinho destes! Mas revendo estes carros tantos anos depois, o que mais me chamou a atenção foi a engenhosidade dos projetos. Muitas peças foram feitas para reproduzir visualmente os buggys off-road 1/1 de chassis tubular, que faziam sucesso na época, e como ainda não havia um "padrão" de design para carros off-road, cada modelo possui soluções diferentes e inovadoras em alguns aspectos. Enquanto hoje em dia praticamente todos os carros de uma mesma categoria têm um design muito parecido, sendo as diferenças notadas apenas nos detalhes, estes primeiros carros da Tamiya possuem cada um a sua "personalidade" própria, pois os carros RC ainda estavam na sua "infância", em termos de projeto. Resolvi enfim comprar e montar alguns dos carrinhos que eram meus objetos de desejo a mais de 20 anos atrás, e vou compartilhar com vocês, colegas de hobby, esta experiência!


O TAMIYA THE FROG
(clique nas imagens para ampliar)

O primeiro modelo desta linha de relançamentos da Tamiya que comprei foi o "The Frog".



Lançado originalmente em dezembro de 1983 pela Tamiya, o Frog é um buggy off-road 4x2, que teve um grande impacto no mercado de RC com seu design inovador e sua boa performance. Quem iniciou no hobby no começo da década de 1980 muito provavelmente começou com um Tamiya Frog ou Grasshopper, o que faz destes dois modelos verdadeiros ícones da história do automodelismo RC! O Frog (= sapo) marcou também o início de uma série de modelos da Tamiya batizados com nomes de animais (Frog, Grasshopper, Hornet, Fox, etc.), estratégia esta que se provou bem-sucedida e foi mantida por vários anos pela marca (e que na minha opinião é bem mais interessante que a "sopa de letras e números" de hoje, como TRF415MSXX...).

Se hoje em dia o chassis do Frog parece um tanto esquisito, é preciso levar em conta que os carros off-road da Tamiya lançados antes do Frog (a linha SRB: Sand Scorcher, Super Champ, etc.) tinham uma carroceria de plástico ABS rígido, chassis reto de fibra de vidro e muitas peças de aço fundido (bandejas de suspensão, caixa de transmissão, etc.). Portanto, para a sua época, o Frog representava um grande avanço em termos de design de carros off-road. Tendo um melhor equilíbrio no uso de plástico e metal, o Frog é muito mais leve que seus predecessores, o que o tornava um carro de desempenho superior para a categoria na época. Até o lançamento do Associated RC10, o Frog era "o carro" nas pistas de off-road, na categoria 4x2!

O Frog possui um chassis de plástico ABS, que imita as estruturas tubulares dos buggys off-road 1/1 da época. As bandejas de suspensão e o pára-choque são de nylon, constituindo uma plataforma leve, porém resistente, ideal para pistas off-road. A bateria é presa na parte inferior do chassis, proporcionando ao carro uma melhor estabilidade (baixo CG) e distribuição de peso, necessárias para encarar terrenos acidentados e saltos. A suspensão é independente nas 4 rodas, sendo composta na dianteira por "double wishbone" (bandejas sobrepostas) com molas internas (sem amortecedores) e braços radiais em aço. A suspensão traseira é do tipo "trailing arm" ("braço arrastado") e tem amortecedores a óleo com corpo de alumínio, montados horizontalmente. A caixa da transmissão é selada, possui um diferencial de engrenagens e relação de engrenagens de 3 passos, com rolamentos que asseguram máxima eficiência na transmissão. A carroceria é de policarbonato, mais leve que as de plástico ABS dos modelos anteriores. O motor é o famoso "latinha" Johnson 540.

O chassis do Frog foi usado pela Tamiya como base para diversos carros, como o Subaru Brat (jul-1983) e o Lancia Rally (nov-1983), e também em monster trucks, como o Black Foot (out-1986) e o Monster Beetle (dez-1986).

Este Frog relançado pela Tamiya em 2005 possui algumas atualizações, mas preserva as características básicas do modelo original. Os amortecedores traseiros agora têm diafragma para compensação de volume e os eixos traseiros são do tipo dogbone, ao invés dos "splines" sextavados do original, que espanavam com certa facilidade. A Tamiya também inclui um "speed" eletrônico TEU-101BK, que substitui o speed mecânico original. A bolha de policarbonato com contornos suaves, marca registrada do carro, permanece a mesma, enquanto que as rodas são compostas por 3 peças e apresentam pneus dianteiros com sulcos e traseiros com cravos, para melhor desempenho na terra.

Fiel ao seu nome, o Frog gosta de saltar, mas a suspensão mais dura leva a aterrissagens nem sempre muito suaves. Para compensar, as hastes laterais de metal ajudam a reposicionar o Frog sobre as rodas em caso de capotagens e ainda protegem a bolha.

[Christian]

MONTAGEM
As caixas da Tamiya mostram o capricho da empresa em todos os detalhes. Apesar do carro ser relativamente simples, a caixa é bem grande, pois as peças são posicionadas de maneira a parecerem uma "caixa de presentes", quando se abre a tampa da caixa. Coisa de japonês...


As peças são separadas em saquinhos identificados por letras, facilitando a montagem. Isto é muito útil, principalmente na hora de encontrar o parafuso certo!


A montagem começa pelo chassis. Um bom alicate de corte é ferramenta indispensável, pois as peças plásticas vêm em "árvores". Um estilete afiado, para tirar as rebarbas, também é muito útil!


Assim como os parafusos, as "árvores" com as peças plásticas também são identificadas por letras. Vejam a árvore "A" e o número "2", que identifica a peça, no caso a peça "A2", indicada no manual. Estes detalhes fazem dos kits da Tamiya os mais indicados para iniciantes!


Em caso de dúvidas, é sempre bom consultar o "índice" de peças, com figuras em escala 1:1.


E aí está a base do chassis montada. Notem como ele imita um chassis tubular.

[Christian]

A montagem da suspensão dianteira reserva algumas surpresas, com soluções inovadoras para a época, mas que hoje não são mais usadas. As peças que seguram os "hubs" dianteiros são presos às peças que seguram as bandejas por parafusos, e usando um arruela estriada entre elas. Alinhar estas peças não é tarefa das mais simples!


O Frog não tem amortecedores a óleo na frente. Quem faz esta função são estas peças plásticas brancas, que contêm as molas dianteiras. Estas peças são encaixadas no chassis e usam uma espécie de graxa para fazer o amortecimento.


As bandejas superiores possuem um "ressalto", que pressiona as peças de plástico branco. A suspensão dianteira do Frog é bastante dura, comparada com a dos carros atuais, e é uma das responsáveis pelo efeito "pula-pula" do carro.


Os postes de bolha são de metal, parafusados diretamente no chassis. Como o chassis é de plástico duro, apliquei um pouco de graxa para facilitar a montagem e não correr o risco de trincar o chassis.

[Christian]

A Tamiya inclui 3 conjuntos de coroa/pinhão, que são específicos do Frog, para se poder ajustar a relação de acordo com o uso. Como meu Frog vai ficar na estante, não me preocupei muito com isso...


O diff é de engrenagens, mas não é selado, ou seja, não se pode ajustar a "dureza" do diff com óleo de silicone. O que vai é uma graxa da Tamiya, que tem mais a função de lubrificar os componentes do que de regular a "dureza" do diff. (Nas fotos eu esqueci de passar a graxa, depois tive que abrir a caixa do diff pra aplicá-la. )
Mas a caixa do diff é fechada, de maneira a proteger a transmissão da terra e sujeira das pistas de off-road. Esta caixa de diff possui peças plásticas reforçadas por "insertos" metálicos, para aumentar a durabilidade.


A caixa do diff vai presa diretamente ao chassis, e forma o "braço" de suspensão traseiro. Novamente, uma configuração que não vemos mais nos carros de hoje em dia...


Os semi-eixos traseiros do Frog original foram substituídos por dogbones, mais resistentes, e ficam protegidos por "mangas" de borracha. Os hubs das rodas traseiras são grandes peças de plástico moldado, que também fazem as vezes de "cantilever", comprimindo os amortecedores traseiros.
E o Frog, sendo um carro voltado aos iniciantes da época, não vinha com muitos rolamentos. Só o diff possui rolamentos, os hubs das rodas recebem buchas de plástico. Se eu pretendesse colocar o Frog na pista, seria o primeiro "upgrade" que faria, mas já que ele vai ficar na estante, montei as buchas plásticas mesmo...


Aí está a suspensão traseira montada... Mas peraí, ainda faltam os amortecedores!

[Christian]

Os amortecedores do Frog foram outro item que sofreu atualização nesta versão de relançamento. Eles agora possuem uma membrana para compensação de volume, similar aos amortecedores mais atuais.


Uma coisa que eu sempre faço quando monto amortecedores é lubrificar os o-rings com "Green Slime", graxa da Associated específica para esta finalidade.


Colocar os "e-clips" no amortecedor sempre requer cuidado, pro clip não voar e sumir! Um bom alicate de bico ajuda...


Outra ferramenta muito útil pra montar amortecedores é este alicate da Tamiya, que tem umas peças de nylon para não riscar o eixo do amortecedor.


Aí estão os dois amortecedores montados! Notem como a mola fica sob o corpo do amortecedor, ao contrário de ficar em volta dele, como nos amortecedores atuais.


A suspensão traseira, agora completa! Os amortecedores ficam na horizontal. E a suspensão traseira também é bem dura, pra contribuir com o efeito "pula-pula" do Frog!


O motor é o famoso "latinha". E notem como não existe ajuste na distância entre coroa e pinhão. Por isso a Tamiya manda os 3 jogos já com as dimensões certas!

[Christian]

Taí o Frog quase pronto!


Próxima etapa: montagem das rodas e dos pneus.


Inserir o "miolo" da roda no pneu é muito provavelmente a tarefa mais difícil da montagem do carro, principalmente para os pneus traseiros. A única maneira que eu consegui fazer isso foi seguindo fielmente as instruções do manual, segurando o pneu com uma das mãos e "rodando" a roda com o dedão, enquanto a outra mão abria o pneu!


Depois é só parafusar as partes externas da roda. E eu que achava que rodas do tipo "beadlock" eram novidade...

[Christian]

Agora a montagem das rodas no carro e a instalação da eletrônica. Como não vou andar com o carro, coloquei apenas o servo dianteiro (um Futaba 3003), pras rodas dianteiras não ficarem "bambas". Mas a Tamiya incluiu neste relançamento um speed eletrônico, muito útil pra quem pretende andar com o carro.
Vejam como ficou o Frog, por todos os ângulos.


Por último, a pintura da bolha!


O manual recomenda recortar e furar a bolha e a asa antes de pintar, e foi o que eu fiz.


A pintura desta bolha foi provavelmente a mais desastrosa que já fiz! Primeiro, como a Tamiya não inclui máscara para os vidros, esqueci de protegê-los e pintei todos os vidros! Tive que tirar a tinta com acetona. Depois, acho que por causa da acetona, a tinta não aderiu à bolha em algumas partes, e tive que repintar. E pra terminar, a tinta vazou a máscara em vários pontos (acho que minha fita crepe está velha...). Enfim, taí o resultado final. Tentei recriar a pintura original da caixa. Não ficou perfeito, mas tá razoável...


Mas o importante é que curti muito montar o Frog, e já tenho mais kits "em estoque" pros próximos tópicos! Aguardem!!!